CHIQUINHA GONZAGA
Por muito tempo, a mulher só apareceu na música pelos olhos masculinos. Foi um longo processo até que elas conquistassem seu espaço nas letras e nos palcos. A primeira mulher profissional da música no Brasil foi Chiquinha Gonzaga, que inventou o gênero marchinha de carnaval lá em 1899. Depois dela, o número de mulheres ajudando a construir vários estilos musicais foi se tornando cada vez maior. Aliás, existem várias mulheres incríveis na nossa música que todo mundo precisa conhecer! Que tal relembrar mais cantoras brasileiras antigas que marcaram para sempre a história da música? Com estilos às vezes semelhantes, às vezes muito diferentes, cada uma delas tem seu lugar de destaque. Elas deixaram marcas que fazem da música brasileira o que ela é hoje!
ELIS REGINA
Nasceu em Porto Alegre, em 1945. Começou a cantar nas rádios ainda adolescente, se inspirando nas grandes musas da época. Apesar de suas influências terem vindo da bossa nova e das cantoras do rádio, Elis criou um jeito novo de interpretar e ficou conhecida pela carga emocional que colocava nas músicas. Ela interpretou e consagrou canções de compositores que na época ainda não eram famosos, como Belchior, Milton Nascimento, Ivan Lins e Renato Teixeira. Sua parceria com Tom Jobim rendeu vários trabalhos marcantes, como a música Águas de Março, que ficou famosa dentro e fora do Brasil. Elis recebeu 5 vezes o Troféu Imprensa de melhor cantora e foi eleita a melhor voz feminina da música brasileira pela Revista Rolling Stone em 2013. Ela ajudou a fundar o que hoje conhecemos como MPB, sendo a primeira mulher a se destacar nos festivais de música popular.
GAL COSTA
Nasceu no mesmo ano que Elis, mas no outro extremo do país, lá em Salvador. A música sempre esteve presente em sua vida: ela chegou até a trabalhar como balconista em uma loja de discos. Ao lado de nomes como Caetano Veloso e Maria Bethânia, Gal ajudou a construir o cenário da música na Bahia. Transitando entre bossa nova, samba, música psicodélica e MPB, teve participação importante no movimento tropicalista e ficou conhecida como musa da tropicália. Gal desafiou os padrões conservadores sobre a mulher na década de 60, abusando de sua sensualidade. Além disso, ela também desafiou os padrões da própria MPB ao misturar a sonoridade do rock em algumas de suas músicas. Seu primeiro grande sucesso foi Baby, composição de Caetano Veloso, que se tornou um clássico da música brasileira.
BETH CARVALHO
Ficou conhecida como madrinha do samba por ter ajudado a revelar grandes nomes do estilo, como Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho. Nascida no Rio de Janeiro em 1946, ela começou a carreira na música como professora de violão. Beth quebrou barreiras no samba e ajudou o estilo tradicionalmente brasileiro a crescer e se espalhar pelo mundo. Ela fez shows em diversos países e chegou a representar o Brasil na Olimpíada Mundial da Canção, em Atenas, Grécia. Seu primeiro grande sucesso foi Andança, apresentada no Festival Internacional da Canção de 1968, e até hoje é uma de suas músicas mais ouvidas. Com problemas de saúde, a cantora chegou a se apresentar deitada e cumpriu seu compromisso de cantar até o fim — Beth Carvalho faleceu no dia 30 de abril de 2019, deixando uma extensa obra cheia de sucessos.
MARIA BETHÂNIA
É de Santo Amaro, no interior da Bahia. Ela se mudou para Salvador para estudar e foi lá que começou sua carreira nos palcos, se apresentando ao lado de outros artistas iniciantes, como Gal Costa e Gilberto Gil, e de seu irmão Caetano Veloso. Foi em uma dessas apresentações que ela conheceu Nara Leão, na época já um grande nome da bossa nova. Quando Nara precisou se afastar do espetáculo Opinião por problemas de saúde, convidou Bethânia para assumir seu lugar — de cara, a cantora já interpretou seu primeiro sucesso, a música Carcará. Maria Bethânia ganhou destaque no começo de sua carreira por ter uma voz forte e imponente. Além disso, ficou conhecida por questionar os padrões de beleza da época, se apresentando com os cabelos soltos e volumosos, roupas largas e pés descalços.
ALCIONE
Filha de um professor de música, Alcione aprendeu a tocar trompete e clarinete aos 9 anos de idade. Aos 12, a sambista já se apresentava profissionalmente em São Luís, sua cidade natal. Se formou professora por exigência do pai, mas logo em seguida se mudou para o Rio de Janeiro para se dedicar à carreira musical. A rainha do samba é dona de vários grandes sucessos, como Meu Ébano. A música Não Deixe o Samba Morrer, composta por Edson Conceição e Aloísio Silva e gravada por Alcione em 1975, virou um clássico do samba e já foi regravada por vários artistas. Em uma entrevista recente, questionada sobre os diferentes discursos sobre a mulher que suas músicas trazem, Alcione afirmou que todas essas mulheres existem em algum lugar, que cada uma delas tem uma história diferente e que a vida tem espaço para todas elas.
ELZA SOARES
Teve que se casar aos 12 anos de idade, passou fome, viu quatro filhos morrerem e teve uma filha sequestrada que ficou anos desaparecida. A cantora também teve sua casa atacada durante a ditadura militar e precisou passar seis anos fora do Brasil. Com tantos dramas, a música e a história de Elza foram vistas por muito tempo como sinônimo de sofrimento, até que ela decidiu mudar de vez essa imagem. Com voz e postura imponentes, ela se mostrou uma mulher forte e empoderada, disposta a usar sua imagem para encorajar outras mulheres. Hoje, ela canta sobre feminismo e sobre preconceito racial, entre outras questões sociais. Sua música Mulher do Fim do Mundo foi tema da série brasileira 3%, e é hoje uma de suas canções de maior sucesso.
RITA LEE
Desde o início de sua carreira, Rita Lee cantou sobre temas inéditos envolvendo a feminilidade e o papel da mulher, e usou suas músicas para homenagear outras mulheres icônicas da história brasileira, como Luz del Fuego, Patrícia Galvão e Leila Diniz. Ela alcançou a fama como vocalista da banda Os Mutantes no fim da década de 60, mas foi em carreira solo que se consagrou como rainha do rock. Rita se aposentou dos palcos em 2012, aos 65 anos de idade, e afirma que agora está lidando com o maior tabu feminino da atualidade: o envelhecimento. Agora Só Falta Você foi um dos singles do álbum Fruto Proibido, lançado em 1975 e até hoje considerado um dos maiores marcos na história do rock nacional.
ELBA RAMALHO
Começou a carreira musical como baterista. Nascida na Paraíba, ela se mudou para o Rio de Janeiro para investir na música, mas acabou se tornando atriz de teatro. Viveu da atuação até o fim da década de 70, quando sua carreira musical finalmente começou a emplacar. Hoje ela é bicampeã do Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Regional. Elba Ramalho foi responsável por ajudar a disseminar a música nordestina por todo o Brasil. Bate Coração foi um de seus primeiros sucessos a entrar nas paradas musicais e ainda é uma de suas músicas mais ouvidas.
FAFÁ DE BELÉM
Ficou conhecida por todo o Brasil em 1975, quando sua música Filho da Bahia fez parte da novela Gabriela. Antes disso, ainda adolescente, ela fugia de casa para se apresentar escondida dos pais nos bares de Belém. Fafá participou ativamente do movimento Diretas Já, se apresentando gratuitamente nas passeatas. Foi nessa época que sua interpretação do Hino Nacional Brasileiro ficou famosa. Uma de suas músicas mais ouvidas é Vermelho, que ela usa como uma homenagem à Amazônia e aos povos indígenas.
CÁSSIA ELLER
Mais uma cantora da lista que nos deixou antes da hora, Cássia Eller foi um ícone do rock brasileiro. Antes do sucesso, ela trabalhou em duas óperas de Brasília como corista, tocou samba e cantou em um grupo de forró. Cássia se mudou sozinha para Belo Horizonte aos 19 anos, e seu primeiro emprego na capital mineira foi como servente de pedreiro, além de cantar nos barzinhos, é claro. Sua carreira decolou em 1989, depois que ela gravou uma versão da música Por Enquanto, composição de Renato Russo. Com sua postura intensa no palco, ela interpretou canções de grandes compositores, como Cazuza, Chico Buarque e Nando Reis, com quem teve uma parceria de muito sucesso. Apesar de suas várias músicas famosas, não dá pra falar em Cássia Eller sem lembrar de Malandragem. Essas são algumas das mulheres que marcaram a história da música brasileira. Gostou do texto? Que tal ouvir um pouquinho mais de MPB?