segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A ERA DOS FESTIVAIS, DITADURA E MUSICAS DE PROTESTOS


O Festival de Música Popular Brasileira foi um concurso anual de canções originais e inéditas criado em 1965 com base no Festival de Sanremo, sendo realizado ininterruptamente até 1969.

Após o sucesso dos primeiros programas de TV voltados para a música, em especial Brasil 60, exibido na TV Excelsior e produzido por Manoel Carlos, Solano Ribeiro achou que era o momento de criar um festival brasileiro de música semelhante ao Festival de Sanremo.

Dentre as 1.290 canções inscritas, 36 foram selecionadas para participar das três eliminatórias, 12 canções por noite.

Local: Eliminatórias: Guarujá, São Paulo (no auditório da TV Excelsior) e Petrópolis (no Hotel Quitandinha); Final: Rio de Janeiro (no auditório da TV Excelsior); Data: 6 de abril de 1965. 

Classificação: 1º Lugar: "Arrastão" (Edu Lobo e Vinicius de Moraes) – intérprete: Elis Regina 2º Lugar: "Canção do Amor que Não Vem" (Baden Powell e Vinicius de Moraes) – intérprete: Elizete Cardoso.




Festivais da  TV Record

Em apenas quatro edições, de 1966 a 1969, os Festivais da Record transformaram a música brasileira e cristalizaram dois dos gêneros musicais mais relevantes do século XX: as canções de protesto e o tropicalismo. Também desempenharam um papel sem precedentes na modernização da música popular brasileira. Ajudaram no processo de superação de rusgas anacrônicas como a campanha contra o uso de guitarras elétricas, empreendida até 1968 por setores da sociedade, e contribuíram para a valorização dos diferentes aspectos constitutivos da canção, da letra à melodia, do arranjo à interpretação.

As duas primeiras edições foram especialmente revolucionárias. A primeira, em 1966, recebeu 2.635 inscrições e promoveu pelo menos dois monstros sagrados da MPB: o cantor Jair Rodrigues e o compositor Geraldo Vandré. “Disparada“, música de Vandré e Théo de Barros defendida por Jair, dividiu o primeiro prêmio com “A Banda“, marchinha de Chico Buarque interpretada por Nara Leão. Sua letra viril e emocionante, acoplada a uma harmonia com raízes sertanejas executada com perfeição pelo Quarteto Novo (num arranjo regional que incluía até o uso de uma queixada de burro), envolveu o público de tal maneira que até Chico Buarque, o adversário, passou a defendê-la.

No dia da grande final, a imprensa noticiava a polarização entre as duas favoritas. Segundo uma piada corrente na época, o Brasil se dividia entre duas espécies: os bandidos e os disparatados, em referência aos títulos das duas canções. E Chico, para desespero da produção, fez circular pelos bastidores o aviso de que não receberia o prêmio sozinho. “A Banda” tinha suas qualidades, mas “Disparada” era superior, ele dizia.

Muitos anos depois, Zuza Homem de Mello, técnico de som do Teatro Record em 1966, revelaria no livro “A Era dos Festivais” (2003) que de fato “A Banda” recebeu do júri uma pontuação maior do que “Disparada”, a vice, obrigando seus membros a jogar o resultado no lixo para anunciar o empate. Uma marmelada histórica, confirmada pelos envelopes com os votos dos jurados que, ao final da noite, lhe foram confiados por Paulinho Machado de Carvalho, o diretor da emissora, para que Zuza os guardasse em sua casa.

O 3º Festival da Record, por sua vez, é considerado o melhor de todos os festivais pela maioria dos críticos e pesquisadores. A canção vencedora foi “Ponteio“, uma feliz parceria de Edu Lobo e Capinam, cantada por Edu e Marília Medalha, com instrumentação do mesmo Quarteto Novo, consagrado com “Disparada” no ano anterior. No entanto, a maior novidade do festival de 1967 foi levar ao palco as primeiras fagulhas do que viria a se tornar o movimento tropicalista. “Alegria, Alegria“, de Caetano Veloso, e “Domingo no Parque“, de Gilberto Gil, foram as duas canções mais surpreendentes daquela edição, e concentravam o que havia de mais revolucionário na proposta ética e estética defendida pela turma tropicalista. O movimento em si seria deflagrado oficialmente no ano seguinte, com a canção “Tropicália”, gravada no LP de Caetano, e principalmente com o álbum coletivo Tropicália ou Panis et Circensis, que reuniu, além dos dois compositores baianos, Nara Leão, Tom Zé, Torquato Neto, Capinan, Gal Costa e Os Mutantes.





Tanto Caetano quanto Gil, no festival de 1967, subiram ao palco acompanhados por grupos de rock, devidamente armados com guitarras elétricas, prontos para serem vaiados pela patrulha antiamericanismos. O ousado arranjo feito por Rogério Duprat para “Domingo no Parque”, executado pelo grupo Os Mutantes, combinava instrumentos elétricos com ruídos que buscavam sintetizar os sons característicos de um parque de diversões. Já “Alegria, Alegria”, com arranjo de Júlio Medaglia, adquiria a forma de uma marcha-rancho modernizada pela visionária instrumentação de um grupo de rock formado por argentinos radicados em São Paulo, os Beat Boys, cabeludos e essencialmente influenciados pelos Beatles.

“Domingo no Parque” conquistou o segundo lugar, enquanto “Alegria, Alegria”, que começou sob vaias e terminou sob aplausos, faturou o quarto. O terceiro lugar ficou com “Roda Viva“, de Chico Buarque, num sofisticado arranjo feito e interpretado pelo MPB 4. “A gente quer ter voz ativa/ no nosso destino mandar”, dizia a mais politizada das canções premiadas naquele ano, sete meses após a ditadura criar a Lei de Segurança Nacional, que, entre outras disposições, proibia “insurreições” e “atividades subversivas”.

O festival de 1967 teve outros momentos marcantes, como a presença de um deslocado Roberto Carlos, ou o histórico chilique de Sérgio Ricardo, que quebrou o violão e o arremessou contra a plateia ao ser vaiado enquanto tentava cantar a fraca “Beto Bom de Bola“. O mais competitivo de todos os festivais teve ainda Elis Regina, ganhadora do prêmio de melhor intérprete, defendendo a bela “O Cantador“, de Dori Caymmi e Nelson Motta; Johnny Alf com sua “Eu e a Brisa”; e Sidney Miller, vencedor do prêmio de melhor letra, cantando com Nara Leão a lírica “A Estrada e o Violeiro”, entre outros sucessos menos pontuados. Pelo menos uma injustiça seria cometida pelo júri naquela edição: dispensada ainda na fase classificatória, “Máscara Negra”, de Zé Kéti, não chegou a ser apresentada numa eliminatória, mas se tornou o maior hit do carnaval do ano seguinte.

Em 1968, dividindo espaço com o Festival Internacional da Canção, da TV Globo, que vinha galgando importância até superar a audiência e a relevância do festival promovido pela emissora paulista, o Festival da Record voltou a emplacar canções tropicalistas no top 5. A campeã foi “São, São Paulo, Meu Amor“, assinada e defendida por Tom Zé, a despeito de a maioria dos críticos hoje a considerar aquém da genialidade do inventivo compositor. “Divino, Maravilhoso“, de Gil e Caetano, ficou em terceiro lugar e alçou a intérprete Gal Costa ao estrelato, rendendo à turma da Tropicália um programa homônimo na emissora. Finalmente, a moda caipira-psicodélica “2001“, outra de Tom Zé, agora em parceria com Rita Lee, abocanhou o quarto lugar, defendida pelo grupo Os Mutantes. Edu Lobo e Chico Buarque voltaram a emplacar canções entre as preferidas do júri, e Sérgio Ricardo, desclassificado no ano anterior, figurou em quinto lugar.

A história dos Festivais da Record terminaria em 1969, com um prêmio de melhor letra para “Moleque”, do novato Gonzaguinha, e a vitória de “Sinal Fechado“, de Paulinho da Viola, defendida por ele mesmo. Diferente dos sambas que o tornaram conhecido, dessa vez Paulinho emplacou uma canção diferente, estranha e genial, com uma cadência truncada, cheia de breques e silêncios, que reforçavam o clima de aflição e abismo sugerido pela letra. “Sinal Fechado” ficaria especialmente famosa na interpretação de Chico Buarque, no disco homônimo de 1974.





Festival Internacional da Canção Popular (FIC)

O mais longevo dos festivais custou a engrenar. Lançado em 1966 por iniciativa da Secretaria de Turismo do então Estado da Guanabara, governado por Negrão de Lima, o Festival Internacional da Canção Popular (FIC), transmitido pela TV Rio, no primeiro ano, e pela TV Globo a partir do ano seguinte, totalizou sete edições, até 1972. Mas foi apenas em 1968 que ele provocou o barulho esperado.

O evento foi idealizado por Augusto Marzagão, um ex-seminarista e ex-repórter policial convertido em assessor político. Marzagão disse ao governador eleito da Guanabara, Negrão de Lima, que gostaria de organizar um festival de música que fosse internacional, o que o diferenciaria das versões realizadas naquele mesmo ano pela TV Excelsior e pela TV Record. Um festival que contribuísse para promover o Rio de Janeiro no exterior. Foi autorizado a apresentar um orçamento e a fechar parceria como uma emissora de TV.

Walter Clark, diretor da Globo, não demonstrou interesse. Erlon Chaves, diretor musical da TV Rio, foi mais receptivo. Negócio fechado, o retorno ficaria bem acima das expectativas da emissora, que contabilizou nada menos que 45 pontos de audiência na primeira eliminatória e terminaria a noite da grande final nacional com 62% dos aparelhos sintonizados nela, marca que saltou para 72% na final internacional.

O repertório era outro ponto fraco. Tachado de “triste” e “lento demais” pela crítica especializada, não convenceu o público, treinado pelos festivais anteriores, tanto o da Excelsior e quanto o da Record, a esperar músicas mais envolventes e vibrantes. Das 28 canções selecionadas para serem defendidas nas duas eliminatórias consecutivas, 14 por noite, duas despontaram como as de maior qualidade segundo a crítica: “Saveiros“, de Dori Caymmi e Nelson Motta, interpretada por Nana Caymmi, e “Canto Triste”, que era triste até no título, composta por Edu Lobo e defendida por Elis Regina.

Classificadas para a final, “Saveiros” foi anunciada como campeã, enquanto “Canto Triste” não foi selecionada entre as três primeiras. O público protestou. Embora não seja possível apontar a canção favorita do público, foi sob vaias que a multidão acompanhou a apresentação de Nana após o anúncio. Deu-se ali, naquele dia, o início de uma tradição que marcaria a história dos festivais: vaiar as canções que não contavam com sua torcida.

Mais uma vez, os shows não entusiasmaram nem os convidados estrangeiros, nem os jurados, nem o público. Enquanto o Festival da Record pegava fogo em São Paulo, misturando letras engajadas com excentricidades estéticas, confirmando-se como palco máximo do inconformismo, da manifestação e da vanguarda da música brasileira, o repertório do festival do Rio continuava apartado do estilo dos festivais. Apesar de toda a grandiosidade do FIC, sua programação era baseada em canções bem-comportadas, que não se comprometiam nem compravam briga, incapazes de levantar a plateia.

O mérito daquela edição foi o de apontar holofotes para o jovem Milton Nascimento, que classificou três composições, todas inscritas à sua revelia por Agostinho dos Santos. O compositor, encantado com a música daquele rapaz, que atuava como crooner em boates de São Paulo, fez de tudo para convencê-lo a se inscrever no FIC. Diante da negativa do compositor, tímido demais para encarar um festival, inventou uma desculpa para gravar as fitas e as encaminhou à organização. Resultado: Milton emplacou “Travessia” em segundo lugar e “Morro Velho” em sétimo na final da etapa nacional.

Embora a campeã tenha sido “Margarida“, de Gutemberg Guarabira, que mais tarde formaria um trio com Sá e Zé Rodrix, aquela edição entraria para a história da MPB como o festival de “Travessia”, a única grande novidade da temporada. O terceiro lugar fico com “Carolina“, do infalível Chico Buarque, defendida por Cynara e Cybele.

A guinada do FIC viria em 1968, com a radicalização das torcidas e a consagração do evento. Pela primeira vez, o festival da TV Globo superou em tamanho, divulgação e legitimidade o festival da TV Record, emissora que começava a dar sinais de declínio, em grande parte gerado por erros de gestão e esgotamento de um modelo.







Na final paulista, a primeira surpresa. Hostilizado pela plateia ao subir ao palco com roupas e assessórios de plástico colorido para cantar “É Proibido Proibir“, acompanhado pelo grupo Os Mutantes, Caetano Veloso, que tinha saído aplaudido do Festival da Record no ano anterior, rebateu as vaias com um discurso ferino e inspiradíssimo. Um happening inigualável, uma bronca pública contra uma claque de jovens intolerantes que, na teoria, defendiam a democracia e a liberdade de expressão.

A atitude era compreensível no contexto da época. Os universitários cobravam de Gil e Caetano um posicionamento claro contra os militares, e se irritavam com a opção deles por assumir bandeiras consideradas menos relevantes, como a defesa das guitarras, dos cabelos compridos, da liberdade sexual.

Outras edições se seguiram, culminando no 7º FIC, de 1972, com direção de Solano Ribeiro, o pai do formato, contratado pela Globo para substituir Marzagão. Duas grandes novidades vinham do mundo do rock: Raul Seixas, ainda desconhecido, classificou o rock-baião “Let me Sing, Let me Sing“, enquanto Sérgio Sampaio, outro estreante, apresentou aquele que viria a ser o maior sucesso de sua carreira: “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua“. Maria Alcina foi a grande revelação em interpretação, defendendo “Fio Maravilha“, de Jorge Ben.

Os intelectuais chegaram a fazer até manifesto a favor de “Cabeça“, música experimental de Walter Franco. Alceu Valença, Fagner, Belchior, Ednardo, Baden Powell e até um jovem compositor de 16 anos chamado Oswaldo Montenegro estavam entre os selecionados.

Dessa vez, a disputa nos bastidores foi ainda mais intensa do que diante das câmeras. De todos os tumultos, o episódio mais grave foi quando os militares entraram em contato com Walter Clark e pediram a cabeça de Nara Leão, presidenta do júri. Dias antes, ela havia criticado a ditadura numa entrevista ao Jornal do Brasil. O diretor-geral da Globo chamou Solano e deu ordens para que a demitisse. Solano ameaçou se demitir também, ciente do absurdo que seria cortá-la àquela altura, após a realização das eliminatórias.

Finalmente, optou-se por destituir o júri inteiro, numa tentativa de encontrar uma justificativa capaz de aplacar um eventual rebuliço na opinião pública. Um novo júri seria formado para a final, que confirmaria as duas vencedoras, alçadas automaticamente à final internacional: “Diálogo“, composição de Baden Powell e Paulo César Pinheiro defendida por Baden, Cláudia Regina e Tobias, e “Fio Maravilha”.

O 7º FIC terminou com baixa audiência, um público modesto (a média de 5 mil pessoas por noite estava muito aquém da esperada), críticas disparadas por toda a imprensa e um prejuízo estimado em 400 mil dólares. Em maio do ano seguinte, a Globo anunciou que o FIC não seria mais realizado, alegando falta de interesse dos patrocinadores.

Naquele momento, a música brasileira e a televisão já viviam outro momento. Os programas musicais já não exerciam o mesmo fascínio de meados da década anterior, já não puxavam a audiência dos canais nem cumpriam com o mesmo rigor o papel de revelar as novidades do mercado fonográfico, transferido gradativamente aos programas de auditório. Ao mesmo tempo, já em 1969, os acontecimentos pós-AI-5 tinham resultado numa diáspora dos mais importantes músicos de festival: Chico, Gil, Caetano e Vandré foram exilados, enquanto Elis afirmava publicamente que não renovaria contrato com a Record se uma cláusula a obrigasse a cantar em festivais.

A era dos festivais chegava ao fim, e todos os eventos desse tipo lançados posteriormente já não tiveram o mesmo impacto. Os grandes festivais ficaram na memória, ao mesmo tempo símbolos de utopia política e lugar da nostalgia cultural.


1º Festival

Primeiro festival de competição entre canções.

Criada com base no Festival de Sanremo. 

Local: Grande Hotel do Guarujá, Guarujá 

Data: 3 de dezembro de 1960

Emissão: Rádio Record e Rádio Panamericana.

2º Festival

Contou com 2.635 inscrições.

Emissoras: TV Record (canal 7, São Paulo); TV Paulista (canal 5, São Paulo) e TV Globo (canal 4, da então Guanabara)

Local: Teatro Record, cidade de São Paulo

Data: setembro e outubro 1966

Prêmio Viola de Ouro

Melhor Intérprete: Jair Rodrigues - "Disparada"

3º Festival

"O festival da virada"

Local: Teatro Record Centro, cidade de São Paulo

Data: 30 de setembro, 6 e 14 de outubro de 1967 (eliminatórias); 21 de outubro de 1967 (final).

Prêmio Sabiá de Ouro

Melhor Intérprete: Elis Regina – "O Cantador" (Dori Caymmi e Nelson Motta)

Melhor Letra: "A Estrada e o Violeiro" (Sidney Miller) – intérpretes: Sidney Miller e Nara Leão

Momento Marcante do III Festival de MPB

"Beto Bom de Bola" (Sérgio Ricardo) – intérprete: Sérgio Ricardo (irritado com as vaias, Ricardo quebrou o violão e jogou-o na plateia). Após o ocorrido, o apresentador pediu a atenção do público para informar que a direção da TV Record pede ao júri para desconsiderar as notas dadas a música pois ela estava desclassificada do festival.

4º Festival

Local: Teatro Record Centro, cidade de São Paulo

Data: Novembro e Dezembro 1968

Último festival antes da decretação do AI-5 (O Ato Institucional Número Cinco (AI-5) foi o quinto de dezessete grandes decretos emitidos pela ditadura militar nos anos que se seguiram ao golpe de estado de 1964 no Brasil. Os atos institucionais foram a maior forma de legislação durante o regime militar, dado que, em nome do "Comando Supremo da Revolução" (liderança do regime), derrubaram até a Constituição da Nação, e foram aplicadas sem a possibilidade de revisão judicial).

Júri Especial e Júri Popular

5º Festival

Local: Teatro Record Augusta, cidade de São Paulo, já que os dois outros principais teatros da Record (Teatro Record Centro e Teatro Record Consolação) haviam sido destruídos por incêndios naquele ano.

Data: Novembro 1969

Foi o único festival da Record realizado após a imposição do AI-5. Isso porque houve um declínio da qualidade do festival por causa dos compositores e interpretes que estavam sendo perseguidos e/ou exilados pela ditadura. Foi exatamente este declínio, notabilizado neste festival, que culminou no fim dos festivais da Record.

Troféu: Viola de Ouro

Direção Geral: Marco Antônio Rizzo

Apresentação: Blota Jr. e Sônia Ribeiro

obs.: Era proibido o uso de guitarras elétricas.

Jurados: Maysa, Severino Filho, Gabriel Migliori, Hervê Cordovil, Moraes Sarmento, Aracy de Almeida e Paulo Bomfim como Presidente do Juri desempatou a votação do 1º Lugar dando o prêmio a Paulinho da Viola.

1º Festival Internacional da Canção Popular (TV Rio, 1966)

Música //Compositor//Intérprete

1º “Saveiros” // Dori Caymmi e Nelson Motta // Nana Caymmi

2º “O Cavaleiro” // Tuca e Geraldo Vandré // Tuca

3º “Dia das Rosas” // Luís Bonfá e Maria Helena Toledo // Maysa

2º Festival Internacional da Canção Popular (TV Globo, 1967)

Música // Compositor // Intérprete

1º “Margarida” // Gutemberg Guarabira // G. Guarabira, Grupo Manifesto

2º “Travessia” // Milton Nascimento e F. Brant // Milton Nascimento

3º “Carolina” // Chico Buarque // Cynara e Cybele

4º “Fuga e Antifuga” // Edino Krieger e V. de Moraes // Quarteto 004 e As Meninas

5º “São os do Norte Que Vêm” // Ariano Suassuna e Capiba // Claudionor Germano

6º “O Sim Pelo Não” // Alcivando Luz e Carlos Coqueijo // MBP 4

7º “Morro Velho” // Milton Nascimento // Milton Nascimento

8º “Fala Baixinho” // Pixinguinha e H. Bello de Carvalho // Ademilde Fonseca

9º “Cantiga” // Dori Caymmi e Nelson Motta // MPB 4

10º “Oferenda” // Luís Eça e Lenita Eça // Cynara e Cybele

3º Festival Internacional da Canção Popular (TV Globo, 1968)

Música // Compositor // Intérprete

1º “Sabiá” // Tom Jobim e Chico Buarque // Cynara e Cybele

2º “Pra Não Dizer Que Não Falei…” // Geraldo Vandré //Geraldo Vandré

3º “Andança” // P. Tapajós, Danilo Caymmi e. Souto // Beth Carvalho

4º “Passacalha” // Edino Krieger // Quarteto 004

5º “Dia de Vitória” // Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle // Marcos Valle

6º “Caminhante Noturno” // Os Mutantes // Os Mutantes

7º “Dança da Rosa” // Francisco Maranhão // Quarteto 0004

8º “Boca da Noite” // Toquinho e Paulo Vanzolini // Ivete e Conj. Canto 4

9º “Canção do Amor Armado” // Sérgio Ricardo // Sérgio Ricardo

10º “Dois Dias” // Dori Caymmi e Nelson Motta // Eduardo Conde

4º Festival Internacional da Canção Popular (TV Globo, 1969)

Música //Compositor // Intérprete

1º “Cantiga por Luciana” // Edmundo Souto e Paulinho Tapajós // Evinha

2º “Juliana” // Antônio Adolfo e Tibério Gaspar // A Brazuca e A. Adolfo

3º “Visão Geral” // C. Costa Filho, R. Mauriti e R. M. de Souza // Quart. 004, C. C. Filho

4º “Razão de Paz para Não Cantar” // Eduardo Lages e Alésio de Barros // Cláudia, Quart. Forma

5º “Minha Marisa” // Fred Falcão e Paulinho Tapajós // Golden Boys

6º “O Tempo e o Vento” // Jorge Osmar e Billy Blanco // Beth Carvalho

Festivais da Música Brasileira

· Festival de Música Popular Brasileira

(TV Record) 1960 • 1966 • 1967 • 1968 • 1969

· Festival Internacional da Canção

(TV Globo) 1966 • 1967 • 1968 • 1969 • 1970 • 1971 • 1972

· Festival Nacional de Música Popular Brasileira

(TV Excelsior) 1965 • 1966

· Bienal do Samba

(TV Record) 1968 • 1971

· MPB Shell

(TV Globo) 1980 • 1981 • 1982

· Outros Festivais

Abertura (TV Globo, 1975), Festival de MPB (TV Tupi, 1979), Festival dos Festivais (TV Globo, 1985), Festival de Música Brasileira (TV Globo, 2000).








O Festival de Música Popular Brasileira de 1967 foi a terceira edição do Festival de MPB organizado pela TV Record. Aconteceu entre 30 de setembro e 21 de outubro de 1967, com todos os eventos sendo realizados no Teatro Record Centro, em São Paulo, com apresentação de Sônia Ribeiro e Blota Júnior.

A canção vencedora do festival foi "Ponteio", de Edu Lobo e Capinam, interpretado pelo primeiro e por Marília Medalha. No entanto, outras canções notáveis foram apresentadas originalmente para o festival, como Alegria, Alegria, de Caetano Veloso; Roda Viva, de Chico Buarque e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, esta última sendo considerada marco inicial da Tropicália.

Mais de 4000 canções foram inscritas no festival cujo prazo de inscrição se encerrou em 26 de julho de 1967. Todas as canções foram avaliadas por um júri de seleção (composto por Amilton Godoy, César Mariano, Ferreira Gullar, Júlio Medaglia, Raul Duarte, Roberto Corte Real e Sandino Hohagen) para que se pudesse escolher 36 canções para o festival.

30 das escolhidas foram anunciadas em 6 de setembro de 1967 e as demais 6 no dia seguinte. Por fim, os intérpretes foram anunciados em 13 de setembro, sendo que em 10 casos, o próprio autor escolheu por defender a canção.





Músicas que marcaram a Era dos Festivais

“Arrastão (Edu Lobo e Vinícius de Moraes) Principal intérprete: Elis Regina”. Inspirada nas experiências de Vinícius com os afro-sambas e em parcerias anteriores do jovem Edu Lobo com o cineasta Ruy Guerra, como “Reza” e “Aleluia”, essa canção de pescador com harmonia sofisticada, envolta num arranjo que em muito lembrava a alternância das marés entre calmarias e ressacas, venceu o 1º Festival da TV Excelsior, em 1965, defendida por Elis Regina.

“A Banda (Chico Buarque) Principal intérprete: Nara Leão”. Na final do Festival da Record de 1966, duas torcidas dominavam a plateia e as enquetes. Metade queria a vitória de “Disparada”, a toada sertaneja de Théo de Barros e Geraldo Vandré, enquanto a outra metade torcia para “A Banda”. Nos bastidores, o próprio Chico Buarque reconhecia a superioridade da canção adversária e avisava aos organizadores: se ele ganhasse sozinho, não receberia o troféu. Sob pressão, o júri, que havia escolhido justamente a canção de Chico, declarou empate entre ela e “Disparada”. Embora “A Banda” tivesse suas qualidades, a canção de Vandré, defendida por Jair Rodrigues, era mais “música de festival”.

“Disparada (Théo de Barros e Geraldo Vandré) Principal intérprete: Jair Rodrigues”. Melhor composição inscrita no 2º Festival da Record, de 1966, ficou atrás de “A Banda” na contagem geral dos votos, mas terminou empatada com ela na liderança por imposição de Chico Buarque, que se negava a ganhar sozinho, reconhecendo a superioridade da música de Théo de Barros e Geraldo Vandré. A toada de inspiração sertaneja combinava o carisma de uma história épica — a do boiadeiro que se indignava com a maneira com que gado e empregados são tratados — com a calorosa interpretação de Jair Rodrigues. Jair por pouco não foi preterido por Vandré, que não queria ver sua canção séria defendida por um sambista engraçado, que fazia tantas estripulias no palco do Fino da Bossa.

“Roda Viva (Chico Buarque) Principal intérprete: Chico Buarque”. A canção foi composta por Chico Buarque para a trilha sonora da peça Roda Viva, escrita em 1967 para ser montada no ano seguinte pelo Teatro Oficina, com direção de Zé Celso. Chico, que naquela época era acompanhado em quase todos os shows pelo conjunto vocal MPB 4, fundado no anterior em Niterói, deixou a partitura com Magro, um dos membros do grupo, e foi viajar. Quando voltou, deu de cara com o arranjo feito por Magro, ideal para disputar um festival. Defendida pelo autor com vocais do MPB 4, a música despertou a atenção da plateia, cativada pelas mudanças de ritmo e pela catártica acelerada final, e ficou em terceiro lugar na TV Record.

“Ponteio (Edu Lobo e Capinan) Principal intérprete: Edu Lobo e Marília Medalha”. Edu Lobo fora chamado por Dori Caymmi para fazer a letra da música “O Cantador”. Semanas depois, compôs o refrão: “Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar”. Quando procurou o amigo para mostrar, Dori, meio constrangido, contou que Nelson Motta estava trabalhando na letra. Edu não se importou, mas concluiu o tema, concentrando-se na harmonia, e encomendou os versos a Capinan. Para defendê-la no Festival da Record de 1967, uniram-se as vozes de Edu Lobo e Marília Medalha. Resultado: “O Cantador” não pontuou entre as seis primeiras, embora garantisse a Elis Regina o troféu de melhor intérprete. Já “Ponteio”, com seu arranjo contemporâneo repleto de referências regionais, à maneira de “Disparada”, sagrou-se campeã, à frente das competitivas canções de Gilberto Gil (“Domingo no Parque”), Chico Buarque (“Roda Viva”) e Caetano Veloso (“Alegria, Alegria”).

“Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarque) Principal intérprete: Tom Jobim”. A canção foi defendida por Cynara e Cybele, do conjunto Quarteto em Cy, no Festival Internacional da Canção de 1968. Embora a torcida clamasse pela vitória do hino estudantil “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré, “Sabiá” sagrou-se vencedora, escolhida pelo júri, diante do Maracanãzinho lotado.

“Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (Geraldo Vandré) Principal intérprete: Geraldo Vandré”. Assim que foi anunciado o veredicto do júri do Festival Internacional da Canção de 1968, no Rio, o público que lotava o Maracanãzinho se pôs a vaiar a vencedora, “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque. A maior parte da plateia torcia pela vitória desta que é considerada a mais emblemática canção de protesto lançada durante a ditadura militar, com seu irrepreensível refrão “Vem, vamos embora/ que esperar não é saber/ quem sabe faz a hora/ não espera acontecer”.

“Águas de Março (Tom Jobim) Principal intérprete: Tom Jobim e Elis Regina”. Lançada em 1972, num compacto produzido pelo jornal O Pasquim, e inserida no LP Matita Perê no ano seguinte, a música dá início à fase ecológica da obra de Tom Jobim. Nessa fase, predominam letras escritas pelo próprio maestro, com forte teor ambientalista, como “O Boto” e “Passarim”. A versão mais famosa foi gravada em dueto com Elis Regina para o álbum Tom & Elis, de 1974.

“Preta Pretinha (Moraes Moreira e Luiz Galvão) Principal intérprete: Novos Baianos”. Foi a música mais executada nas rádios na época do lançamento do famoso LP Acabou Chorare, dos Novos Baianos, em 1972. A harmonia simples de Moraes Moreira, fundada em apenas dois acordes, casa-se perfeitamente com a letra de Galvão, também econômica.

“Começar de Novo (Ivan Lins e Vítor Martins) Principal intérprete: Simone”. Esta música foi feita às pressas, em maio de 1979, para ser tema de abertura da série Malu Mulher, exibida pela TV Globo. A canção traduziu o espírito da lei de anistia que se aproximava. Romântica, suave, delicada, a canção dialogava com o cool jazz de tal maneira que seria gravada em seguida pela americana Sarah Vaughan, em inglês.

“O Que É, O Que É (Gonzaguinha) Principal intérprete: Gonzaguinha”. Gravada em 1982 com estrutura de samba-enredo, a canção estourou nas rádios por sua mensagem de otimismo. Tinha um inédito compromisso do compositor com a ideia de um amanhã melhor, sendo ele conhecido na década anterior pelo apelido de cantor-rancor, em razão de seu pessimismo e mau humor. “Eu sei/ que a vida devia ser bem melhor, e será/ mas isso não impede que eu repita/ é bonita, é bonita e é bonita”.

“Coração de Estudante (Wagner Tiso e Milton Nascimento) Principal intérprete: Milton Nascimento”. Admirada por Tancredo Neves, a canção de Wagner Tiso letrada por Milton foi largamente reproduzida, em 1985, pelos jornais que noticiavam o velório e o enterro do presidente eleito que não chegou a tomar posse. Àquela altura, a música já era um fenômeno. Composta em 1983 por Wagner Tiso, numa versão instrumental, para a trilha do documentário Jango, lançado naquele ano, ganhou letra de Milton ainda em 1983 e entrou num LP ao vivo. Em 1984, foi cantada em muitos comícios pelas diretas.





Aqueles anos de chumbo foram cheios de intolerância e radicalização estética e política. Disputas insufladas nos festivais migravam para as gravadoras, os canais de TV, a vida pessoal. Na Copa de 1970, enquanto a seleção conquistava o tricampeonato no México, a linha dura do regime institucionalizava a tortura como método de repressão e fazia disparar as estatísticas (não computadas, não divulgadas) de mortes e desparecimentos políticos.

A oposição ao governo inflamava-se de tal maneira que surgiu a patrulha ideológica de esquerda que apontava o dedo para todos aqueles que ousavam gravar canções ufanistas e que revelassem amor pelo país, o que bastava para ser acusado de conivência com o sistema.

Dom & Ravel e Os Incríveis faziam canções ufanistas e tornaram-se queridinhos dos militares com “Eu te Amo Meu Brasil”. Nem “País Tropical”, de Jorge Ben (depois Benjor), escapou.

Enquanto as polarizações permaneciam entre acústicos e plugados, engajados e desbundados, “comprometidos” e “traidores” a maioria dos ouvintes de música popular brasileira queria mesmo era se divertir com o soul dançante de Simonal e Jorge Ben e, principalmente, com o pop-cafona de Odair José, Waldik Soriano e Agnaldo Timóteo, na época ídolos da música brega. Odair José, um dos artistas mais representativos do período do regime militar, é o autor da canção “Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula)”, censurada, como tantas outras de sua autoria, não por ideologia política stricto sensu, mas por atentar contra os bons costumes.

Enquanto isso, o samba pedia passagem com Clara Nunes, a primeira mulher a vender mais de 100 mil cópias de um LP, Paulinho da Viola, Alcione, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Paulo César Pinheiro e, diretamente de São Paulo, o macarrônico Adoniran Barbosa, entre outros.

A música sertaneja avançava com Tião Carreiro & Pardinho, Milionário & Zé Rico, Chitãozinho & Xororó, Sérgio Reis, apresentando os primeiros indícios do fenômeno de massa que seria consolidado nos anos 1990, com canções como “Estrada da Vida”, de Milionário & Zé Rico.






À medida que o regime se fechava, cada vez mais autoritário e violento, parte importante do grupo que produzia bossa nova engajada acabaria por inaugurar uma nova escola no cancioneiro geral: a da música de protesto. Esse filão, tão prolixo quanto necessário em tempos de censura e truculência, não chegou a constituir um ritmo ou um gênero musical, como a bossa nova e o iê-iê-iê.

Musicalmente, conciliava-se com ritmos já constituídos, localizados em diferentes bases, como o samba, a toada ou a marchinha. O fundamental era transmitir o recado. A música de protesto constituiu o primeiro movimento musical mais facilmente identificável pelas letras do que pelas harmonias. O que servia de espinha dorsal do movimento, ao redor da qual se acomodavam os artistas, era a oposição ao regime militar e aos seus desmandos.

Contribuíram para esse florescer de canções engajadas os sucessivos festivais da música popular promovidos primeiramente pela TV Excelsior e, em seguida, pela Record, em São Paulo, e pela Globo, no Rio. Foi nos festivais da música popular brasileira que muitas das canções de protesto foram exibidas pela primeira vez e alcançaram fama internacional.

Com a censura oficial imposta pelos militares, as gravadoras passaram a submeter à análise as partituras e as letras das composições previstas para os álbuns em produção. O passo seguinte foi exigir também o envio de fitas gravadas, uma vez que virou moda driblar a censura com jogos de palavras só perceptíveis em voz alta, conforme a interpretação do cantor.

Um exemplo é “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil, uma das mais famosas canções de protesto. Criada e proibida em março de 1973, ela seria lançada em disco apenas em 1978. Nela, o pulo do gato era transformar a palavra “cálice” em “cale-se”, algo que a letra impressa poderia disfarçar, mas a audição tornava evidente.

Em geral, a mensagem morava nas entrelinhas, e podia ser mais ou menos explícita conforme a intenção ou a experiência do autor. Em “Acorda Amor”, por exemplo, o aparente relato da prisão de um ladrão de galinha esconde a real intenção do compositor: descrever o momento em que um subversivo era raptado por agentes do Dops. “Se eu demorar uns meses/ convém às vezes/ você sofrer/ mas depois de um ano eu não vindo/ põe a roupa de domingo/ e pode me esquecer.” Essa passou. Já “Apesar de Você”, que simulava uma briga de casal para eternizar um desabafo contra a ditadura, foi vetada: “Como vai proibir/ quando o galo insistir/ em cantar?”.

Outra estratégia era assinar com um pseudônimo, para evitar o pente fino reservado aos compositores mais visados (Chico virou Julinho de Adelaide, o MPB 4 virou Coral Som Livre). Ou inserir as músicas com duplo sentido no meio do material encaminhado pela gravadora para ser usado nos discos de artistas bregas, românticos, alienados, que jamais deram motivo para preocupação. Nesses casos, era mais provável que o censor, inocente, fizesse vista grossa.

Foi cumprindo à risca essa estratégia, por exemplo, que Paulo César Pinheiro teve liberada “Pesadelo”, a mais descarada de todas as canções de protesto dos anos 1970, lançada em seguida pelo MPB 4: “Você corta um verso, eu escrevo outro/ você me prende vivo, eu escapo morto/ de repente, olha eu de novo/ perturbando a paz, exigindo troco…”.

Além de Chico, Gil, Paulo César Pinheiro e os cantores do MPB 4, foram também assíduos praticantes da música de protesto artistas como Geraldo Vandré, Sérgio Ricardo, Gonzaguinha, Ivan Lins e Vítor Martins, Taiguara, João Bosco e Aldir Blanc, Milton Nascimento e Caetano Veloso, entre outros.

“Viola Enluarada (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) Principal intérprete: Milton Nascimento e Marcos Valle”. “A mão que toca um violão/ se for preciso faz a guerra”. Era essa a mensagem. Artistas do mundo, uni-vos! Gravada em janeiro de 1968, o ano que assistiria à radicalização da resistência e da repressão.

Principalmente após a morte do estudante Edson Luís, no Rio de Janeiro, a prisão de centenas de universitários no congresso da UNE, em Ibiúna, e a promulgação do AI-5, em dezembro. Essa toada sertaneja tornou-se uma das mais lembradas canções de protesto do final da década, sendo entoada inclusive pelos combatentes do Araguaia.

“Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (Geraldo Vandré) Principal intérprete: Geraldo Vandré”. Assim que foi anunciado o veredicto do júri do Festival Internacional da Canção de 1968, no Rio de Janeiro, o público que lotava o Maracanãzinho se pôs a vaiar a vencedora, “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque. A maior parte da plateia torcia pela vitória desta que é considerada a mais emblemática canção de protesto lançada durante a ditadura militar, com seu irrepreensível refrão: “Vem, vamos embora/ que esperar não é saber/ quem sabe faz a hora/ não espera acontecer”.

“Proibido Proibir (Caetano Veloso) Principal intérprete: Caetano Veloso”. Uma frase grafitada num muro de Paris maio de 1968 e captada por uma foto publicada no Brasil pela revista Manchete inspirou a canção de Caetano Veloso: Il est interdit d’interdite. O baiano a terminou às vésperas de inscrevê-la no Festival Internacional da Canção, realizado em setembro, e foi vaiado por subir ao palco acompanhado com os roqueiros de Os Mutantes, num ano em que parte considerável da plateia se opunha ao uso de guitarras. As vaias foram rebatidas por um discurso inflamado do artista, num episódio épico dos anos de chumbo.

“Cálice (Gilberto Gil e Chico Buarque) Principal intérprete: Chico Buarque e Milton Nascimento”. Composta num sábado de Aleluia, especialmente para ser apresentada em dueto no festival Phono 73, produzido pela gravadora Phonogram, a canção abusou do jogo de palavras “cálice” / “cale-se” e acabou vetada pela censura na véspera do show. A autor referência foi inevitável: calaram os cantores no exato momento em que eles ousavam gritar “cale-se” ao microfone. “Esse silêncio todo me atordoa/ e atordoado eu permaneço atento.” Os artistas só conseguiram mostrar uma versão instrumental, e Chico só pôde gravá-la cinco anos depois, em 1978, dividindo os vocais com Milton Nascimento, uma vez que o parceiro original deixara a gravadora.

“Apesar de você (Chico Buarque) Principal intérprete: Chico Buarque”. No primeiro verso, a canção já mostrava a que vinha: “Amanhã vai ser outro dia”, repetia o cantor, com a voz cada vez mais nítida, uma, duas, três vezes. “Hoje, você é quem manda/ falou, tá falado/ não tem discussão”, afirmava ainda a primeira estrofe. De cabo a rabo, a canção registrada num compacto no final de 1970 se referia à censura e à repressão policial. Em 1971, Chico foi convocado para dar explicações. Os agentes queriam saber quem era o “você” da canção. “Uma mulher muito autoritária”, jurava Chico. Não colou. E a música foi proibida, até 1978.

“Acorda Amor (Leonel Paiva e Julinho de Adelaide) Principal intérprete: Chico Buarque”. Julinho de Adelaide, o autor da letra, nunca existiu. Seu nome verdadeiro era Francisco Buarque de Hollanda. Em 1974, Chico precisou recorrer a um codinome para ter uma canção liberada pela censura. Sem esse expediente, nada dele passaria. Um dos mais visados autores de canções de protesto, ao lado de Taiguara e Gonzaguinha, Chico foi bem-sucedido em sua estratégia e conseguiu gravar o samba de Julinho de Adelaide.

Nele, descrevia uma cena muito frequente naqueles anos: o momento em que um agente da ditadura invade a casa de um cidadão acusado de subversão e o leva preso. O jeito era se despedir da mulher, com a ansiedade natural de quem não sabe se seu destino será a cela, o exílio ou a morte sob tortura. “Se eu demorar uns meses/ convém às vezes/ você sofrer/ mas depois de um ano eu não vindo/ põe a roupa de domingo/ e pode me esquecer".


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